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MP DENUCIA EXISTÊNCIA 11,5 MIÇ INQUERIROS PARADOS NA BAHIA

sexta-feira, 30 de março de 2012

MP denuncia existência de 11,5 mil inquéritos parados na Bahia


Carlos Terra, pai do adolescente Lucas, assassinado em 2001, em protesto na porta do fórum
Carlos Terra, pai do adolescente Lucas, assassinado em 2001, em protesto na porta do fórum
O representante comercial Carlos Terra, 56, conta 4.027 dias, desde o assassinato do filho Lucas Terra, aos 14 anos, em 2001. A contagem não para até que a Justiça decida se dois dos três acusados irão ou não a júri popular. Longa e dolorosa, a espera do pai expõe um sistema judiciário, segundo especialistas e operadores do direito, inerte, reflexo de leis frouxas e de uma infraestrutura sucateada.
Levar acusados de matar a júri é a prioridade da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), do Ministério da Justiça. Apesar do esforço, a força-tarefa criada na Bahia em junho do ano passado, com quatro promotores do Ministério Público do Estado (MP-BA) e quatro delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), não atingirá a Meta 2 do Enasp até o final do prazo (30 de abril próximo).
Existe uma “montanha” de processos parados – prontos para ir a júri ou ainda sem autores identificados. Em todo o Estado, a força-tarefa conseguiu dar encaminhamento a 2.258 inquéritos (19,5%), de um total de 11.536 inquéritos  por homicídios dolosos, instaurados entre os anos de 1991 e 2007. Foram 388 denúncias oferecidas pelo MP-BA, que arquivou ou desclassificou o restante dos procedimentos. No estoque, ainda restam  9.278 inquéritos parados.
“Metade dos estados deve cumprir a meta no País. A Bahia não deve conseguir finalizar tudo, devido ao grande volume”, admite a juíza federal Taís Ferraz, que é membro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), instância responsável por monitorar as 27 unidades federativas quanto à Meta 2.
Produtividade - Em números absolutos, a Bahia é o segundo Estado que mais encaminhou inquéritos, o que a Enasp chama de “produtividade” – 2.258, contra 13.261 do Rio de Janeiro, o primeiro colocado. No entanto, em termos proporcionais, a Bahia tem 19,6% da meta realizada, o sétimo pior desempenho.
O panorama do País mostra que, entre os cinco estados com mais de 80% da meta cumprida, nenhum tem estoque inicial acima de dois mil inquéritos. O percentual nacional é de 21,9% (31.283 de 142.987 inquéritos policiais).
Chama a atenção, entre os dados da força-tarefa baiana, o volume de arquivamentos propostos e de inquéritos devolvidos às delegacias pelo MP-BA, respectivamente 1.747 (incluídos nos 2.258 de produtividade) e 2.423. Juntos, representam 89% dos 4.681 inquéritos já analisados.
O coordenador do Núcleo do Júri do MP-BA, Antônio Luciano Assis, diz que há arquivamento quando se constata a ausência de indícios de autoria ou o processo prescreve. Os inquéritos são devolvidos às delegacias quando não são esgotadas as possibilidades de investigação: “Devolvemos para que sejam feitas mais diligências”.
O promotor considera que 388 denúncias oferecidas à Justiça é um número significativo. “É um grande êxito ter 17% de denúncias, porque a média nacional hoje de elucidação de crimes contra a vida é de 8%”, destaca. Ele observa que o percentual reflete um trabalho ainda mais exitoso, por se tratar de processos antigos, instaurados até dezembro de 2007: “Isso dificulta a investigação, devido ao tempo do acontecimento do crime”. Deve-se a isso o alto índice de arquivamentos.
Segundo Assis, foi elaborado um diagnóstico da estrutura policial, no qual se apontam as dificuldades de investigação: “Não posso divulgar porque ele vai ser encaminhado ao Ministério da Justiça, ao governador e à Secretaria da Segurança Pública”.
Mas a análise substancial é conhecida. “O grande volume de inquéritos paralisados decorre da histórica falta de investimentos na estrutura policial, em viaturas, em agentes da Polícia Técnica e em logística”, aponta Assis. A juíza Taís Ferraz traz o mesmo cenário em âmbito nacional: “A falta de estrutura é gritante. Outro ponto é o déficit de capacitação dos agentes”.
A TARDE tentou contato, nesta quinta, com o  procurador-geral de Justiça do MP-BA, Wellington César Lima, mas a assessoria do órgão informou que ele estava em viagem a Minas Gerais.
Obstáculos - Fora da polícia, a própria lei atrapalha, “criando obstáculos à Justiça”, segundo o promotor de acusação do caso Lucas Terra, Davi Galo. O pai da vítima cobra o júri popular. “O crime prescreverá em nove anos e não é muito tempo pelos recursos possíveis”, aponta Davi Galo.
Carlos está há mais de dez dias acampado em  frente ao Fórum Ruy Barbosa, em Nazaré: “Só saio daqui quando a Justiça se pronunciar”.
atarde

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