ARGENTINA APRENDEU COM TRAGÉDIA
Argentina aprendeu com tragédia
A Argentina chorou a tragédia de Santa Maria, no Rio de Grande do Sul, como se fosse sua. A morte de pelo menos 236 jovens na boate Kiss, há uma semana, ganhou o nome de Cromañon brasileiro, referência dolorosa ao drama idêntico ocorrido em uma casa noturna de Buenos Aires, em 30 de dezembro de 2004, que matou 194 pessoas e deixou 1.432 feridas. No país vizinho, a impunidade passou longe. A investigação desbaratou uma rede de cobrança de propina, 26 envolvidos foram presos, o então prefeito Aníbal Ibarra acabou sofrendo um impeachment e as normas de segurança das boates e casas noturnas passaram por transformação profunda. José Iglesias, 61 anos, advogado do Movimento Que No Se Repita, que congrega sobreviventes e familiares de vítimas da tragédia na boate República Cromañon, afirma que assistir às cenas de Santa Maria foi como voltar no tempo. "As imagens de uma são espelho da outra. Um dos símbolos de Cromañon foram os sapatos jogados no chão, que são o que os jovens perdem logo no desespero. Na Kiss, foi a primeira coisa que vi", diz ele, cujo filho Pedro, 19, morreu na República Cromañon. As coincidências vão além dos sapatos. O incêndio na discoteca bonaerense foi causado por um sinalizador lançado pela banda Callejeros, mesmo expediente usado pelo grupo Gurizada Fandangueira na boate Kiss, em Santa Maria. A saída de emergência da Cromañon estava trancada com um cadeado, medida de proteção contra penetras que acabou ampliando a agonia de quem tentava fugir do fogo e da fumaça. A Kiss, por sua vez, sequer tinha porta de emergência. Em ambos os casos, os extintores de incêndio falharam e a licença de funcionamento estava vencida.
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