O CARNAVAL ESPANTA A CRISEO Carnaval está espantando a crise, pelo menos em Salvador, pelo menos por alguns dias. Está espantando a crise sob o ponto de vista psicológico, com a alegria expulsando o pessimismo e o mau humor, mas, principalmente, porque a economia da folia atrai milhares de turistas, gera milhares de empregos temporários, viabiliza uma renda adicional a milhares de pessoas e se desdobra em estímulos a vários segmentos, aumentando a demanda por serviços e produtos, pelo menos momentaneamente. Apesar da crise, o Carnaval de Salvador vai atrair cerca 800 mil turistas que gastarão quase R$ 1 bilhão em menos de duas semanas. São 800 mil no total, incluindo nacionais e estrangeiros, e também os baianos que vêm de outras cidades para curtir a festa aqui sendo que mais de 50% deles não ficarão hospedados em hotéis, mas sim em casas particulares. Além disso, em termos de patrocínio, a prefeitura receberá R$ 35 milhões e colocará mais R$ 15 milhões de recursos próprios, enquanto o governo do estado aportará R$ 69 milhões, sendo que cerca de 63% para custear o policiamento, mas tudo isso se transforma, de uma forma ou de outra, em contratação de mão de obra, pagamento de serviços de todo o tipo, desembolsos para entidades, artistas blocos e associações, pagamento de salários e horas extras e por aí vai. Que outro evento é capaz de movimentar tal montante em mais ou menos sete dias? Mas não vamos esquecer que, inserido inteiramente no processo capitalista, o Carnaval de Salvador é uma mercadoria e também está sofrendo as agruras da maior crise econômica recente do país. Por isso, embora espante momentaneamente a crise, o Carnaval reflete a grave situação econômica e, em relação ao ano passado, foi mais difícil encontrar patrocínios, os camarotes serão menos numerosos e menos glamourosos e a venda de abadás será menor. E aqui vale lembrar que blocos de corda e camarotes passam por uma crise não apenas conjuntural, mas estrutural, pois, assim como aconteceu no Rio de Janeiro onde os blocos de rua tomaram as ruas da cidade, em Salvador, o Carnaval está se reinventando, expulsando gradativamente as cordas e devolvendo as ruas ao folião pipoca. E aí é preciso lembrar que a parte econômica do Carnaval de Salvador precisa também se reinventar, pois o lucro vindo de blocos fechados e elitistas é cada vez menor e é preciso buscar novas formas de dinamizar a economia do axé, agora comandada, majoritariamente, pelo povo e sob a égide do Fuzuê, do Furdunço e do folião pipoca. (Fonte: Correio. Avena