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NÃO PEDEMOS NOS INTIMIDAR, DIZ SENADOR ' XERIFE' DA CPI


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A carreira como delegado da Polícia Civil ensinou ao senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) duas habilidades essenciais: montar um plano de investigação e interrogar depoentes. Ainda no início de seu primeiro mandato no Senado, que começou em 2019, Vieira assumiu uma cadeira de suplente na CPI da Pandemia, se juntou às reuniões semanais com a cúpula da comissão, composta por caciques partidários, como Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), e passou a elaborar estratégias e a discutir as linhas de apuração que avança sobre o Palácio do Planalto e o entorno do presidente Jair Bolsonaro.
“A CPI não pode se intimidar”, diz Vieira. “A gente tem clareza da dificuldade do que estamos fazendo, mas também da importância dos fatos”, diz. Para o parlamentar, está claro o envolvimento de políticos e de militares na má condução do combate à pandemia no Brasil, que já deixou mais de 540.000 mortos no país.
“A gente já chegou nessas pessoas e vamos ter que aprofundar a comprovação de atuação. Não há como você discutir a má qualidade da reação do governo federal em combater a pandemia sem falar do [ministro da Defesa, general Walter] Braga Netto, que coordenou essa situação por um longo tempo. Ele tinha e tem interação direta com esse corpo de coroneis e generais que borrou o alto escalão da Saúde. É preciso ouvir essas pessoas e avançar a apuração sem ter preocupação com nome e CPF, afirma Vieira.
A primeira parte da CPI terminou nesta semana, depois de 90 dias de trabalho. A cúpula da comissão, composta por senadores de oposição a Bolsonaro, considera já ter conseguido comprovar erros e omissões do governo federal no combate à pandemia. Segundo Vieira, estão claros alguns fatos como o retardo na compra de vacinas e a ausência de uma campanha de esclarecimento sobre o vírus para o cidadão brasileiro.
Na segunda etapa, entre agosto e outubro, a comissão pretende avançar sobre possíveis esquemas de corrupção na compra de vacinas e de outros insumos. Os avanços nesse área ainda são limitados.

“A gente tem que aprofundar a atuação desses dois grupos no Ministério da saúde, militares e centrão, os relacionamentos e as eventuais vantagens financeiras recebidas ou prometidas. Isso vai estar no cerne, mas a parte mais importante está delimitada: comprovar que o governo não fez o que deveria ter feito, e isso teve consequências fatais para centenas de milhares de brasileiros”, diz o senador.
Segundo ele, a comissão vai delimitar as responsabilidades pelos supostos atos de corrupção, prevaricação e improbidade administrativa já identificados. “Temos um mundo de informações que precisam ser aprofundadas. Quando a gente entende que o Brasil persistiu no chamado kit de tratamento precoce—quando o mundo inteiro deixou de falar disso em maio de 2020— e soma com a percepção de que os fabricantes tiveram lucros bilionários com a venda desses medicamentos no Brasil, precisamos aprofundar se teve algum tipo de contribuição financeira para os agentes políticos que colocaram essa defesa [de medicamentos sem eficácia contra Covid].”
A CPI está mapeando o relacionamento de agentes públicos com intermediários de vacinas e vendedores de remédios do kit covid. Durante o recesso parlamentar, a comissão vai analisar os documentos recebidos.
Para Vieira, já ficou comprovada a existência de “uma espécie de gabinete paralelo de assessoramento baseado não na ciência”, que orientou as políticas públicas no Brasil durante a crise sanitária. “É um padrão de comportamento do governo Bolsonaro: a desorganização e as estruturas paralelas na cadeia de comando de relacionamento”, afirma. “O próprio Bolsonaro já verbalizou isso em algumas oportunidades: que ele tem uma Abin própria, que tem uma rede de informantes própria, uma estrutura paralela. Essa coisa paranóica prejudica muito a administração.” (Fonte: Veja)

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