IBITIARA-BA: MUNICÍPIO DE LUTO MORRE UMA DAS ÚLTIMAS RENDEIRAS ( FRANCISNA MARIA DE OLIVEIRA COMUNIDADE DE SÃO DOMINGUS
"Olê muié rendeira / Olê muié rendá
Tu me ensina a fazê renda / Que eu te ensino a namorá..."
Sempre tive paixão por rendas.
Quando criança passava horas a fio vendo a minha mãe fazendo "panos para
calças para homens". Achava tudo incrível! Aquelas mãos ágeis, trançando
fios com os bilros, num movimento acelerado que mal dava para acompanhar
com os olhos; em seguida, prendia a trama de fios com alfinetes no desenho
sobre a almofada, e assim ia dando vida a rendas maravilhosas. Detalhe: minha
mãe, como toda boa sertaneja, usava espinhos de cardeiro ou de palmatória
ao invés de alfinetes. Dessa parte eu não gostava, porque era sempre eu
que tinha e colher os espinhos nos pés das plantas que ficavam no fundo do
quintal, e quase sempre saia muito arranhada. A recompensa vinha depois em forma de
renda para colocar num vestido ou numa blusa, e isso eu amava! Até
que ela tentou me ensinar sua arte, mas eu não levava o menor jeito!
Saudades mãe! O ofício de rendeira proporciona uma
viagem ao imaginário feminino são mulheres que tecem o dia a dia com finos
fios. A força que emana da tradição de tramar as linhas é real. E o fio que
conecta essas mulheres, entre gerações de uma mesma família, é que parece
torná-las o que são: mulheres que lutam bravamente e que, ao mesmo tempo,
desempenham um ofício minucioso e delicado. Com paciência e maestria seguem
fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua
família já faziam, mas revisitam e atualizam as formas e os pontos que fazem
hoje. De modo que estão, ao mesmo tempo, com um pé no passado e outro no presente. |
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